Psicólogo Wilsius Norte

 

Estava revendo a sitcom “Modern Family” e deu uma vontade louca de escrever. Simplesmente adoro essa série, e recomendo demais!

 

Tenho revisitado temas e conteúdos sobre orientação parental e ao rever esta série percebi o quanto ela apresenta de forma muito didática, divertida e espontânea as complexidades e dinâmicas familiares, e isso me fez deixar correr algumas análises sobre os núcleos familiares e personagens, e sobretudo como ao nos desenvolvermos no nível pessoal, toda a família se desenvolve e cresce.

 

Cada núcleo familiar empreende uma construção de maturidade. Eles enfrentam desafios, exploram seus arquétipos interiores e trabalham para integrar aspectos sombrios e luminosos de suas personalidades – e como em toda família, podemos percebê-los individualmente (em cada nicho familiar) e em conjunto (a familia toda) – isso na série, isso na vida real!

 

Os conceitos junguianos de sombra, anima e animus expresso em eco nessa série são bacanas de levar em conta ao tentarmos compreender a complexidade dos personagens e da família como um todo – elaborei aqui neste texto um esboço da visão destes aspectos em cada personagem.

 

A sombra, representando os aspectos não reconhecidos e reprimidos de nós mesmos, é evidente na relação de Jay com seus filhos.

 

Jay muitas vezes demonstra uma postura rígida e tradicional, escondendo emoções mais sensíveis – algo que Claire compartilha bastante. Já o Mitchell, por outro lado, incorpora uma versão mais sensível e emocional, refletindo uma parte da sombra de Jay.

 

Ao longo da série, eles aprendem a reconhecer e aceitar esses aspectos ocultos, levando a um crescimento pessoal e a um relacionamento mais profundo.

 

A anima e o animus, que representam as características femininas presentes em homens e as características masculinas presentes em mulheres são bem ilustrados e caricaturados em diversos momentos na série.

 

Claire, muitas vezes, mostra características mais assertivas e práticas, enquanto Phil revela uma sensibilidade e criatividade distintas. Conforme a série avança, eles exploram esses aspectos, resultando em um equilíbrio mais saudável e enriquecedor em suas personalidades e relacionamento. Eles integram suas contrapartes e evoluem – saindo do estereótipo e nos apresentando com humor muitas das dificuldades que carregamos.

 

Agora, que tal darmos uma sacada em cada núcleo familiar e em como suas jornadas de crescimento e integração de suas sombras pessoais revelam a construção da maturidade?!

 

Bora lá! – vou buscar café e vou usar uma caneca igual a do Mitchell!

 

Os (novos) Pritchett

 

Jay Pritchett, casado com a colombiana Gloria, formam junto com Manny – filho da Gloria, um núcleo intercultural e intergeracional.

 

Jay, o patriarca, é confrontado com desafios que revelam sua anima – a parte feminina do inconsciente proposto por Jung.

 

Enquanto Gloria é o extravertido arquetípico, Jay é mais introvertido, o que ilustra o equilíbrio de opostos.

 

Ao longo da série, Jay e Gloria amadurecem como casal, integrando suas diferenças e construindo uma relação mais profunda. O que não foi possível com DeDe, ex-esposa de Jay, mãe da Claire e do Mitchell.

 

Jay personifica o arquétipo do patriarca. Ele é dominante, pragmático e muitas vezes mantém uma fachada de controle. Sua jornada psicológica envolve confrontar sua anima – o aspecto feminino inconsciente – representado em seu casamento com a jovem Gloria. Ao longo do tempo, Jay aprende a integrar seu lado sensível e emocional, encontrando equilíbrio entre sua natureza introvertida e extrovertida. Aprende a aceitar-se em sua idade, maturidade e construção pessoal.

 

DeDe, a ex-esposa, personifica o arquétipo da mãe castradora. Ela é dominadora, crítica e frequentemente projeta suas próprias inseguranças nos outros. Sua jornada envolveu o confronto com sua própria sombra e a exploração das razões por trás de suas atitudes controladoras. Embora não tenhamos visto uma trilha completa de desenvolvimento para DeDe na série, é possível que, se tivesse tido a oportunidade, ela poderia ter trabalhado para integrar aspectos mais vulneráveis e compreender melhor os efeitos de suas ações. É importante perceber o quanto Claire se aproxima de DeDe no que diz respeito ao controle.

 

A atual esposa do Jay se chama Gloria e representa o arquétipo da deusa/mãe. Ela é apaixonada, expressiva e intensamente ligada às emoções. Sua jornada consiste em equilibrar sua exuberância com a pragmática cultura americana. Através da relação com Jay, ela desenvolve uma compreensão mais profunda da complexidade das emoções humanas, integrando aspectos de sua própria animus – a parte masculina inconsciente.

 

Gloria possui um filho, de seu primeiro casamento – o Manny, que personifica o arquétipo do “velho sábio” em um corpo jovem. Ele é sofisticado, eloquente e muitas vezes age de maneira mais madura do que sua idade sugere. Sua jornada psicológica envolve equilibrar sua busca por sabedoria e profundidade com sua necessidade de aproveitar a juventude. Conforme amadurece, Manny integra aspectos mais espontâneos e lúdicos de sua personalidade, permitindo-se experimentar a vida de maneira mais leve.

 

Na série, Jay e Gloria adotam Stella – uma adorável buldogue francês, como parte de sua família, e sua relação com ela ilustra muitos aspectos da paternidade de animais de estimação. Assim como com crianças, a responsabilidade de cuidar de um pet envolve fornecer comida, abrigo, exercícios e atenção médica adequada. Jay e Gloria demonstram cuidado e dedicação ao garantir o bem-estar de Stella, reforçando a importância de tratar os animais com amor e respeito.

 

Além disso, a relação de Jay e Stella também mostra como um pet pode influenciar positivamente a vida de uma pessoa. Stella muitas vezes serve como um confidente e uma fonte de conforto emocional para Jay, destacando a conexão única que pode se desenvolver entre humanos e animais de estimação. Isso reflete a noção de que cuidar de um pet não é apenas uma responsabilidade, mas também uma oportunidade de enriquecimento emocional e aprendizado.

 

Ser um pai de pet envolve compreender as necessidades, desejos e comportamentos do animal, e se esforçar para oferecer um ambiente saudável e feliz.

 

Temos ainda uma nova criança, filho do Jay e da Gloria, o Joe!

 

Ele pode ser visto como um exemplo do arquétipo da “criança interior”, representando a parte inocente, espontânea e natural do ser humano. Ele muitas vezes age sem inibições, expressando seus sentimentos de maneira direta. Ele simboliza a busca por prazer e a liberdade de restrições sociais, e é uma mistura perfeita das características de seus pais.

 

Por outro lado, Javier, o ex-marido de Gloria, poderia ser analisado como um exemplo do arquétipo “animus”, que representa a parte masculina do inconsciente de uma mulher. Javier é muitas vezes retratado como charmoso, ousado e cativante.

 

Os Dunphy

 

O núcleo Dunphy representa o estereótipo da família nuclear, com Claire e Phil como pais e seus três filhos.

 

Claire se apresenta como a mãe protetora e tradicional, enquanto Phil adota o papel do pai brincalhão.

 

Ambos avançam em direção à maturidade familiar ao reconhecerem e integrarem suas próprias sombras, admitindo suas fraquezas e superando os padrões rígidos e inflexiveis.

 

Seu crescimento pessoal os ajuda a se conectarem mais profundamente com seus filhos, promovendo uma atmosfera de aceitação e apoio.

 

Claire personifica o arquétipo da dona de casa e da mãe. Ela é organizada, protetora e muitas vezes luta para manter o controle. Sua jornada de crescimento envolve explorar seu lado sombrio e permitir-se ser mais espontânea. À medida que amadurece, ela se conecta com sua animus, aceitando a parte mais lúdica de sua personalidade.

 

Já o Phil personifica o arquétipo do palhaço – embora ele tenha fobia em relação a palhaços. Ele é enérgico, otimista e muitas vezes age como o “bobo da turma”. Sua jornada inclui a integração de sua sombra – os medos e inseguranças que ele geralmente mascara com humor. Conforme amadurece, Phil encontra um equilíbrio entre sua expressividade extrovertida e uma compreensão mais profunda de suas emoções interiores.

 

A primogênita do casal é a Haley, que personifica o arquétipo da adolescente/aventureira. Ela é impetuosa, busca independência e muitas vezes luta para definir sua identidade. Sua jornada envolve a integração de sua animus, permitindo-se desenvolver mais profundidade emocional e sabedoria. Conforme amadurece, Haley encontra um equilíbrio entre sua busca por liberdade e sua conexão com a família.

 

Alex é a filha do meio, e personifica o arquétipo da intelectual/estudiosa. Ela é lógica, introvertida e frequentemente lida com inseguranças. Sua jornada inclui o desenvolvimento de sua anima, permitindo-se explorar sua criatividade e emoções. À medida que amadurece, Alex se torna mais aberta a experiências emocionais e encontra um equilíbrio entre sua busca por sucesso acadêmico e sua necessidade de conexão humana.

 

Luke é o caçula, e nos trás o arquétipo do bobo/jovial. Ele é despreocupado, muitas vezes agindo de maneira impensada e infantil. Sua jornada envolve integrar sua sombra, cultivando responsabilidade e consciência. Conforme amadurece, Luke desenvolve uma compreensão mais profunda das consequências de suas ações, enquanto mantém sua natureza lúdica.

 

Temos ainda o Dylan, namorado recorrente da Haley, e que por fim se torna seu marido. Ele personifica o arquétipo do artista/sonhador. Ele é criativo, sensível e muitas vezes age impulsivamente. Sua jornada psicológica envolve a integração de sua sombra, especialmente em relação à responsabilidade e planejamento para o futuro. Ao longo da série, Dylan amadurece à medida que se torna pai e enfrenta as responsabilidades da vida adulta, encontrando um equilíbrio entre sua natureza livre e suas obrigações. Ele é uma versão mais jovem do Phil, e é legal de ver as interações do Phil com o Dylan, do Jay com o Phil, e entre Jay-Phil-Dylan.

 

Os Tucker-Pritchett

 

Cameron e Mitchell são um casal gay que adotou uma filha vietnamita, Lily, e no fim da série adotam também um menino.

 

A dualidade entre Cameron – o emocional e expressivo, e Mitchell – o racional e prático, reflete a jornada de aceitação de suas identidades e a exploração de diferentes formas de masculinidade.

 

Ao longo do tempo, eles se tornam mais conscientes de suas próprias complexidades e, assim, promovem um ambiente seguro para Lily expressar sua individualidade.

 

Mitchell representa o arquétipo do intelectual/advogado. Ele é analítico, reservado e muitas vezes lida com ansiedades internas. Sua jornada de desenvolvimento envolve conectar-se com sua anima, permitindo-se explorar aspectos mais emocionais e criativos. À medida que amadurece, Mitchell se torna mais equilibrado em sua abordagem à vida.

 

Cameron personifica o arquétipo do artista/ator, sem contar que ele possui uma outra expressão, ou persona – O Fizbo! Um clown profissional que estrutura a inocência e sensibilidade. Ele é teatral, emotivo e tem um forte senso de expressão. Sua jornada envolve equilibrar seu desejo por atenção com uma busca por autenticidade. Conforme amadurece, Cameron integra sua sombra, explorando os aspectos mais racionais de sua personalidade, representados pela animus.

 

Sua filhota, a Lily, nos revela o arquétipo da criança interior. Ela é observadora, imaginativa e muitas vezes expressa suas opiniões de maneira franca. Sua jornada psicológica envolve a exploração de sua individualidade e a integração de sua sombra, permitindo-se expressar uma gama mais ampla de emoções. À medida que cresce, Lily desenvolve uma compreensão mais profunda de si mesma e encontra maneiras de equilibrar sua natureza brincalhona com momentos de reflexão – principalmente nonque se refere a diferenciação e aceitação de si mesma.

 

Essas interpretações são apenas uma perspectiva possível e podem ser aplicadas de várias maneiras diferentes aos personagens – com isso deixo claro, que esta é a minha visão sobre, aberta e inacabada.

 

Ao desenvolvermos pessoalmente esses aspectos, como os personagens da série, acabamos por influenciar positivamente nossa família.

 

O crescimento individual se traduz em maior compreensão, empatia e harmonia entre os membros da família, como testemunhamos na evolução dos personagens ao longo das temporadas. Portanto, à medida que trabalhamos para entender e integrar nossa sombra, anima e animus, promovemos um ambiente de crescimento e entendimento dentro de nosso contexto familiar.

 

A maturidade é alcançada quando os membros da família aceitam a complexidade de suas identidades individuais e se unem por meio da compreensão e do amor mútuo.

 

Esse processo não apenas solidifica os laços, mas também enriquece o caminho rumo ao crescimento pessoal de cada indivíduo. Além é claro de trazer uma grande lição – aprender a rir de si mesmo, construindo a confiança através do aprendizado com os próprios erros – e isso é maturidade!

 

Psicoterapia é algo que todos nós precisamos e estou aqui para isso.

 

E não esqueça: Você é Incrível!

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