Psicólogo Wilsius Norte

 

“The Walking Dead” é uma narrativa que nos força a encarar uma realidade desconfortável: em muitas ocasiões, os zumbis são mais humanos do que os humanos se tornam diante de algo…

 

De algo o quê?! Depende…

 

Dê uma olhadela no post anterior, e então volte aqui…

 

Zumbis: Um Espelho da Desumanização Contemporânea

 

Deu uma lida?! Então bora continuar nossa reflexão!

 

Comecemos com uma premissa simples: o zumbi é, essencialmente, um humano morto que não encontrou paz. Em TWD eles são chamados de Vagantes – Eles perambulam sem propósito, guiados apenas por um instinto básico: sobrevivência.

 

Não há malícia – Eles não tramam, não conspiram, não mentem.

 

Eles são a manifestação pura e simples da fome.

 

Já os humanos… Ahhh os humanos… Em TWD, estes frequentemente revelam um lado muito mais sombrio e perverso – e é a construção deste estado, desumano, que nos importa nessa reflexão.

 

Quando a sociedade colapsa, a verdadeira natureza emerge. E, muitas vezes (quase sempre) é monstruosa.

 

A série explora isso de forma brutal. O apocalipse zumbi serve como uma tela em branco onde cada personagem revela sua verdadeira essência, moldada pela existência contextualizada.

 

Rick Grimes, o protagonista, começa a série como um homem de princípios – um líder nato que valoriza a vida e a moralidade. No entanto, à medida que a série avança, vemos Rick descer lentamente na espiral da violência e do pragmatismo brutal. Ele mata não apenas para sobreviver, mas para proteger os seus de uma forma que muitas vezes beira a desumanidade.

 

A transformação de Rick é um estudo de caso sobre a desconstrução da humanidade e redenção (?!) – Alguém gostaria de ler sobre?!

 

Ele se adapta, mas a um custo. Toda adaptação cobra seu preço.

 

Ele mata sem remorso, toma decisões que um Rick do passado jamais consideraria. Ele se torna o que ele sempre temeu: um homem que não pode mais distinguir entre o certo e o errado, apenas entre o necessário e o desnecessário. E nesse ponto, quem é mais humano? Rick, com seu código moral despedaçado, ou um zumbi, que não conhece outra coisa além de sua natureza?

 

Vamos sair do singular e passar pro coletivo… Um dos aspectos mais provocativos de TWD é como ele desmistifica a civilização.

 

Antes do apocalipse, os humanos viviam sob a ilusão de que a civilidade e a moralidade eram intrínsecas à condição humana. Mas, na verdade, eram apenas um verniz, uma camada fina que a qualquer momento poderia ser arrancada.

 

E ai te questiono – quais são as camadas do teu verniz?!

 

O apocalipse revela que, sem a estrutura social para nos guiar, muitos de nós regressamos ao estado de natureza hobbesiano, onde a vida é “solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”.

 

O grupo dos Salvadores, liderado por Negan, é o exemplo perfeito dessa regressão. Negan governa com um punho de ferro, usando o terror e a violência para manter o controle. Ele reduz os outros a servos, cria um ambiente onde a sobrevivência do mais forte é a única lei. Mas o que é mais perturbador? Que os Salvadores existam, ou que tantos escolham seguir Negan, aceitando a brutalidade como um modo de vida viável? – e nisso, todos que aceitam estar ao lado dele se tornam ele, abdicando de sua própria identidade, todos se tornam Negan.

 

Ao darmos uma refletida em outro grupo, os Sussurradores, percebemos que eles representam uma faceta perturbadora da humanidade, onde a linha entre humanos e zumbis se torna nebulosa.

 

Eles são uma manifestação extrema de adaptação, sobrevivência e identidade em um mundo desprovido de ordem.

 

Eles se destacam como um espelho distorcido da condição humana, refletindo a capacidade de desumanização e resiliência que define a nossa espécie.

 

Ao viverem como mortos para sobreviverem como vivos, eles nos forçam a confrontar o que significa realmente ser humano em um mundo onde a civilização foi dilacerada.

 

E agora, ampliando um pouco mais a reflexão, vamos repensar as comunidades e a civilidade.

 

As comunidades estabelecidas pelos sobreviventes são microcosmos da civilização que existia antes do apocalipse.

 

Lugares como Alexandria, Hilltop e o Reino são esforços tangíveis para restaurar a ordem, a cooperação e a estabilidade. Essas comunidades não apenas fornecem segurança física, mas também reintroduzem estruturas sociais e culturais. A reconstituição de governos, a divisão de trabalho e a implementação de leis e punições indicam um desejo de retornar à normalidade – mas nada de paz, amor e magia – a normalidade é escura, acinzentada, e cheia de degradês morais – como a alma humana.

 

Essas comunidades simbolizam a capacidade humana de reconstruir e reinventar a sociedade mesmo nas circunstâncias mais adversas.

 

A reconstrução da civilidade exige um balanço delicado entre sobrevivência e moralidade. Decisões difíceis, como a punição de crimes, a alocação de recursos escassos e a proteção dos mais vulneráveis, forçam os personagens a reavaliar e redefinir o que é certo e errado – e o que seriam esses conceitos, diante dessa realidade?!

 

A capacidade dos sobreviventes de inovar e se adaptar às novas realidades é um testemunho de sua humanidade.

 

A criação de sistemas agrícolas em Alexandria, a recuperação de tecnologias pré-apocalípticas e a busca por novas formas de governança são exemplos dessa adaptação. Esses esforços não apenas garantem a sobrevivência, mas também simbolizam um retorno à civilidade, onde a engenhosidade humana e a capacidade de resolver problemas são valorizadas.

 

Enquanto os zumbis representam a degradação total da humanidade, os sobreviventes simbolizam a resistência e a resiliência. Através da construção de comunidades, a redefinição da moralidade e a adaptação, os personagens mostram que a civilidade pode renascer mesmo no cenário mais desesperador.

 

Vamos adiante! – sem nos prendermos a uma linha do tempo… Consegue perceber como a formação da República Civil-Militar foi uma tentativa de preservar a identidade coletiva e criar uma sensação de comunidade em um mundo fragmentado?!

 

Essa organização oferece um senso de pertencimento e propósito – com aplicabilidade diretiva.

 

A reintrodução de sistemas educacionais, a organização de atividades sociais e a promoção de valores comuns são esforços para manter a humanidade em meio à desumanização do apocalipse.

 

A RCM se esforça para preservar e promover esses aspectos da humanidade, porém sua rígida estrutura de controle e a necessidade de medidas drásticas para manter a ordem também os aproximam dos zumbis em um nível simbólico.

 

Ou seja, de uma forma ou de outra, a normalidade não pode ser retomada – a adaptação e sobrevivência cobram seu preço!

 

Assim, a linha entre humanidade e desumanização torna-se nebulosa, refletindo mais uma vez a complexidade do que significa ser humano em um mundo onde as normas civilizacionais foram destruídas.

 

Agora, novamente te provoco a refletir em quem são os verdadeiros mortos-vivos.

 

Os zumbis são, literalmente, mortos que andam, ou os humanos que, frequentemente, agem de maneira mais morta: sem empatia, sem compaixão, guiados apenas por uma sobrevivência cega que ignora qualquer noção de moralidade?!

 

Percebo a série (e as HQs) como um comentário ácido sobre a natureza humana, nos mostrando que, quando as máscaras caem, somos capazes das piores atrocidades.

 

A verdadeira monstruosidade não está nos zumbis, mas nos vivos que escolhem o caminho da crueldade.

 

“The Walking Dead” é uma autópsia da alma humana. Nos força a olhar para dentro e questionar nossa própria moralidade, nosso próprio potencial para a monstruosidade.

 

No fim das contas, a pergunta que devemos fazer não é como sobreviveríamos a um apocalipse zumbi. A verdadeira questão é: como manteríamos nossa humanidade em meio ao caos?

 

A resposta, infelizmente, pode ser mais sombria do que gostaríamos de admitir.

 

E não esqueça: Você é Incrível!

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