Psicólogo Wilsius Norte

A paternidade tem me trazido muita coisa boa, inclusive conflitos internos.

 

Yeap! Daqueles que nos fazem crescer.

 

A paternidade tem sido uma jornada interior – complexa, sem romantismo, cheia de desafios, mas incrivelmente gratificante.

 

Ao adotar uma criança, somos confrontados não apenas com as responsabilidades práticas da parentalidade, mas também com uma transformação e um mergulho nas nossas águas profundas – e isso, bem, isso pode afogar.

 

E por isso, resolvi escrever um pouco sobre esse mergulho – na tentativa, além de compartilhar minha vulnerabilidade, colocar para fora e me ler, fora da caixinha, fora do aquário – e assim, respirar (melhor).

 

Hoje é dia dos pais, e ainda mais, é o aniversário dele – do meu filho. Fará 3 anos. E está sendo lindo vê-lo crescer e desenvolver a cada momento desde que chegou para nós.

 

O processo legal foi finalizado. Ele é nosso, e nós somos dele.

 

Estar consciente dessa vivência, prática e subjetiva me trouxe a compreensão que cada momento é carregado de significado único, moldado por todas as minhas vivências, expectativas e relações com meu filho – e também com meu pai (no caso, pais – tenho dois, mas isso fica para outro dia).

 

Enquanto enfrento a realidade concreta da paternidade de uma criança de quase 3 anos, também sou desafiado a confrontar minha própria ansiedade, medo e esperança – sem a construção cronológica da paternidade – foi pá pum! E está sendo intenso!

 

“Ahh mas foi pouco tempo, 3 aninhos ainda é um bebê” – gente… Dá uma busca aí na fase dos 2 anos e depois volta aqui… Agora imagina isso, sem a conexão cronológica afetiva…

 

Estava preparado para ser pai?! Não.

Estou, agora?! Não.

Acredito que um dia estarei?! Não.

 

Isso faz de mim um pai horrível?! Não.

 

Isso faz de mim, humano. Aprendendo a cada dia.

 

Tornando-me pai. E isso, isso é lindo.

 

Essa jornada esta sendo linda.

Eu disse linda, não disse fácil.

 

Ser pai não é fácil, mas também não é coisa de outro mundo – ok, às vezes é, mas aí viajo na batatinha, e vou no outro mundo junto com ele.

 

Esses tempos apresentei o He-man das antigas para ele e foi uma loucura! Ele simplesmente adorou, não apenas ficar diante da tela assistindo, mas brincando junto comigo, imaginando, criando e vivendo histórias – é assim que usamos as telas por aqui, mas isso também fica para outro dia.

 

Ele numa tarde dessas decidiu que não seria apenas o He-man, mas a mistura do He-man e do Capitão América. E agora, está conhecendo o Hulk e me perguntando sem parar porque ele é tão bravo…

 

Gente… Esse dia foi louco! Muito divertido, muito intenso!

 

É essa liberdade, esse potencial de vida compartilhada que torna a paternidade tão incrivel.

 

O existencialismo destaca a liberdade e a responsabilidade na criação de significado(s) na vida.

 

Como pai me vi confrontado com escolhas que trazem consequências significantes:

 

Como moldar o relacionamento com a criança?

 

Como lidar com os desafios da parentalidade?

 

Como se relacionar com a lacuna de sua história anterior?!

 

Essas escolhas não apenas definem minha jornada como pai, mas também refletem minha própria busca por autenticidade e sentido.

 

Segundo Jung, a psique humana é composta por diferentes aspectos, incluindo a sombra – partes de nós mesmos que tendemos a reprimir ou ignorar.

 

Na paternidade, o pai pode encontrar aspectos de sua própria sombra que são ativados pelo processo de criação de um vínculo com a criança. Ele pode confrontar suas próprias inseguranças, traumas não resolvidos ou expectativas não cumpridas.

 

E aqui, sinto de perto a falta de ar.

 

Será que meu pai tinha as dúvidas que eu tenho?!

 

A figura do Pai, esse ídolo que paira sobre nossas cabeças, é muitas vezes o monstro invisível que nos aprisiona na caverna da mediocridade. Vencer essa sombra não é apenas necessário; é vital.

 

Enquanto estivermos vivendo na sombra do Pai, nossa própria luz jamais brilhará – ela não precisará Ser, nós não precisaremos Ser. Poderemos viver sempre ali, em sua sombra, como coadjuvantes de nós mesmos.

 

Sair dessa posição, dessa zona de conforto, é um desafio, envolve encarar nossas próprias falhas e parar de culpar aquele que veio antes de nós. A sombra do pai não é uma condenação eterna, a menos que você escolha que seja.

 

Ao reconhecer e abraçar esses aspectos mais sombrios, o filho que agora é pai, pode alcançar uma maior integridade psicológica e fortalecer seu relacionamento com a criança.

 

E ao lembrar disso – intelectualmente, e trabalhar isso na terapia, voltei a respirar.

 

Estou aprendendo a aceitar a totalidade de minha própria humanidade, o que, por sua vez, permite uma conexão mais autêntica com meu filho adotivo – ultrapassando essa expressão, e constituindo a estrutura parental de fato.

 

Ele é meu filho. Fato.

 

Jung postulou a existência de arquétipos universais – padrões de pensamento e comportamento que são compartilhados por todas as culturas.

 

O arquétipo do pai representa a autoridade, proteção e orientação. Na paternidade, o pai é desafiado a encarnar esse arquétipo de uma maneira única, navegando entre as expectativas sociais, suas próprias experiências de paternidade e o relacionamento com seu filho.

 

Ao se conectar com o arquétipo do pai, podemos encontrar orientação e força para enfrentar os desafios da parentalidade.

 

Assim reconhecemos a importância de nosso papel como figura paterna na vida da criança e nos esforçamos para ser um modelo positivo e amoroso.

 

Ao mesmo tempo, permanecemos conscientes da individualidade de nosso filho, permitindo que ele se torne quem ele é destinado a ser, independentemente das circunstâncias de sua adoção.

 

Isso não é fácil – é uma batalha diária, mas é muito bacana de sentir as mudanças refletidas no dia-a-dia.

 

Paternidade é onde a covardia morre, onde o “quaze” perde espaço para o “agora”.

 

Encarei de frente os fantasmas do passado e, com cada gesto, cada palavra, decidi não replicar o padrão, mas sim destruí-lo.

 

Descobri que ser pai é mais do que um título; é uma oportunidade implacável de confrontar e transcender as falhas herdadas. Porque no final, a verdadeira paternidade não é apenas criar um filho, mas matar o “quaze” que a sombra do pai me impôs, para que meu filho nunca tenha que carregar o peso de ser quase algo, quase alguém.

 

E aqui lembrei – Eu sou incrivel!

 

Então, nunca esqueça isso: Você é Incrível!

 

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