Psicólogo Wilsius Norte

 

Zumbis.

 

É, zumbis. É sobre isso que vou escrever hoje… Zumbis.

 

Yeap!

 

Essas criaturas mortas-vivas, têm sido uma presença persistente e fascinante na cultura pop, especialmente em filmes, séries de televisão, e jogos.

 

Eles servem como uma metáfora multifacetada, refletindo ansiedades sociais e psicológicas.

 

Dando uma olhadela mais crítica e criteriosa nessa figura, podemos traçar insights significativos sobre a desumanização e a humanização na sociedade moderna.

 

A figura do zumbi tem suas raízes no folclore haitiano, onde era associado à magia e ao controle sobre os mortos. No entanto, sua transformação em ícone da cultura pop começou com filmes como “White Zombie” (1932) e, mais decisivamente, com “Night of the Living Dead” (1968) de George A. Romero, que revolucionou o conceito, transformando o zumbi em uma metáfora para os medos contemporâneos – desde a invasão comunista até o consumismo desenfreado e a alienação social.

 

A imagem do zumbi é intrinsicamente ligada à desumanização. Eles são seres que perderam sua identidade, consciência e humanidade – e é aqui, onde quero inquietar… Seriam eles, mais humanos, do que nós, humanos?!

 

Eles representam um estado de existência onde a individualidade e a moralidade foram aniquiladas, restando apenas o instinto primal de consumir.

 

Esta imagem pode ser vista como uma crítica ácida à sociedade moderna, onde indivíduos muitas vezes são reduzidos a meros consumidores, desprovidos de personalidade ou propósito além do consumo incessante – quem nunca né?!

 

Na era do capitalismo avançado, a metáfora do zumbi torna-se ainda mais intensa…

 

Os shoppings lotados, retratados em filmes como “Dawn of the Dead” (1978), simbolizam a transformação dos cidadãos em consumidores sem mente, movidos por uma insaciável fome de produtos e distrações – coisa que não mudou muito, pelo contrário, está muito mais presente hoje em dia.

 

A crítica é clara: estamos nos tornando zumbis em um sistema que nos desumaniza, nos transformando em autômatos que consomem sem reflexão ou crítica.

 

Psicologicamente, os zumbis ancoram medos primitivos. Eles são a personificação da perda de controle sobre nosso próprio corpo e mente.

 

A transformação em zumbi, geralmente causada por um vírus ou contaminação, simboliza a vulnerabilidade humana à doenças e à perda de autonomia. Além disso, o medo de ser devorado representa o medo da aniquilação completa da identidade individual.

 

A narrativa zumbi tem se aventurado na humanização desses monstros. Séries como “In the Flesh” (2013/2014) exploram a ideia de zumbis que recuperam, de alguma forma, sua consciência ou lutam com vestígios de humanidade. Essa abordagem subverte a tradicional desumanização, convidando a audiência a sentir empatia por essas criaturas.

 

A humanização aqui desafia a dicotomia simples entre humano e monstro. Ela sugere que, mesmo aqueles considerados completamente desumanizados ainda podem possuir elementos de humanidade. Isso pode ser visto como uma reflexão sobre a complexidade da condição humana e a capacidade de redenção. No entanto, também levanta questões inquietantes sobre o que nos define como humanos e o que significa perder ou recuperar essa humanidade.

 

Os zumbis, em sua persistente popularidade, servem como um espelho sombrio da sociedade moderna. Eles refletem nossos medos sobre a desumanização, a perda de identidade, e a alienação dentro de um sistema que prioriza o consumo e o conformismo. Ao mesmo tempo, a humanização deles nos desafia a reconsiderar nossas definições de humanidade e monstrosidade.

 

Vamos voltar a Romero, mais exatamente ao Bub, personagem do filme “Day of the Dead” (1985)… Ele é crucial para uma compreensão mais profunda da humanização dos zumbis na narrativa cinematográfica e enriquece nossa inquietação sobre zumbis e a desumanização.

 

Bub é um dos primeiros exemplos de zumbi humanizado no cinema. Ele é um morto-vivo que, ao contrário dos outros zumbis, demonstra traços de comportamento humano e a capacidade de aprender.

 

Ele evoca empatia do público, o que é uma reviravolta significativa na caracterização dos zumbis, pois não é apenas um monstro irracional, mas uma criatura com traços de humanidade.

 

Incorporar Bub na análise crítica dos zumbis adiciona uma camada de complexidade ao tema da desumanização. Enquanto a maioria dos zumbis representa a perda completa de humanidade, Bub sugere que vestígios de humanidade podem persistir, mesmo nas condições mais extremas.

 

Isso levanta questões sobre a natureza da humanidade e a capacidade de recuperação e redenção, mesmo após uma desumanização profunda – aspectos que são muito bem explorados na série britânica “In the Flesh”.

 

Essa série nos oferece uma crítica social mordaz, utilizando a metáfora dos zumbis para abordar questões como o medo do desconhecido, a intolerância, e a capacidade de uma sociedade para mudar e aceitar.

 

A série sugere que a verdadeira monstruosidade não reside nos zumbis, mas nas atitudes de preconceito e rejeição dos humanos. Ela levanta questões sobre a natureza do perdão e a possibilidade de reconciliação, tanto a nível individual quanto coletivo.

 

Ao darmos uma olhadela mais profunda, e ao refletirmos sobre alguns aspectos comportamentais, podemos identificar contrastes marcantes sobre a natureza humana e organização social.

 

Zumbis, por definição, não atacam seus iguais. Esse comportamento sugere uma forma de coesão social que, apesar de ser primitiva e instintiva, é extremamente eficaz.

 

Entre os zumbis, não há mentiras, discriminação ou preconceito. Todos são iguais na sua existência e na sua missão de buscar humanos para saciar sua fome.

 

Neste aspecto percebemos uma crítica implícita à sociedade humana, onde divisões sociais, raciais, econômicas e políticas frequentemente levam a conflitos e discriminação.

 

Quando nossa fome (simbólica) grita dentro de nós, o que somos capazes de fazer?! Quantos iguais somos capazes de consumir, canabalizar (simbolicamente falando)?!

 

Outra característica dos zumbis é sua incapacidade de enganar, ofender, passar a perna, e por aí vai…

 

A comunicação entre eles, embora rudimentar, é direta e transparente.

 

Em contraste, a sociedade humana é complexa e frequentemente marcada por enganos, manipulações e desinformação – e aqui já podemos trazer um pouco do que hoje conhecemos como fake news.

 

A capacidade humana de mentir é tanto uma habilidade de sobrevivência quanto uma fonte de conflitos interpessoais e sociais. A honestidade absoluta dos zumbis, mesmo que não intencional, aponta para uma pureza de intenções que muitas vezes falta entre os humanos.

 

Quando zumbis se movem em hordas, tornam-se uma força praticamente imbatível. Este comportamento reflete a força da união e da colaboração.

 

Em muitas sociedades humanas, a cooperação é ofuscada pela competição e pelo individualismo. Os zumbis, apesar de seu estado de decadência, exemplificam como a união pode superar fraquezas individuais. A força coletiva dos zumbis serve como um lembrete do poder do trabalho em equipe e da solidariedade – conceito hoje que é válido se podemos nos aproveitar dele de alguma forma midiática. E eu nem vou falar sobre empatia – essa fica para outro dia, outro post!

 

Considerando essas características, podemos refletir sobre várias questões práticas.

 

A coesão social dos zumbis sem discriminação levanta a questão de como a sociedade humana poderia evoluir se superássemos nossas próprias barreiras preconceituosas.

 

A honestidade dos zumbis, ainda que bruta, desafia-nos a considerar os benefícios de uma comunicação mais transparente em nossas interações diárias.

 

E, finalmente, a força da união dos zumbis sugere que, apesar de nossas diferenças, a colaboração pode ser a chave para enfrentar desafios globais.

 

Diante dessas reflexões, surge uma questão intrigante: os zumbis são melhores que os humanos?

 

Se considerarmos “melhor” em termos de coesão social, honestidade e poder da união, os zumbis são mais humanos do que nós, humanos.

 

A comparação serve mais como um espelho crítico para examinar e melhorar nossa própria postura – pessoal e intransferivel, e não coletiva. Enquanto nos mantivermos na tentativa de mudar o mundo, não mudamos a nós mesmos.

 

Os zumbis, em sua simplicidade, nos lembram das virtudes que podemos cultivar: igualdade, honestidade e união. Como metáfora, oferecem uma visão desafiadora sobre os aspectos da sociedade humana que poderiam ser melhorados. Embora não sejam melhores que os humanos em um sentido holístico, suas características instintivas nos proporcionam um modelo simplificado de virtudes que, se aplicadas conscientemente, podem levar a uma sociedade mais harmônica e justa.

 

Em última análise, a verdadeira lição está em equilibrar nossa complexidade humana com as virtudes fundamentais exemplificadas por essas criaturas fictícias.

 

Ou, continuaremos sempre assim, humanos à espera de humanizacao.

 

E não esqueça: Você é Incrível!

 

 

 

 

 

 

 

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